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domingo, 17 de fevereiro de 2013

Guia prático do calouro

Olá pessoal!
Antes de qualquer coisa, gostaria de agradecer imensamente TANTAS visitas recebidas e curtidas novas na página do blog no Facebook. Ontem de madrugada ultrapassamos as 2000 visualizações e estamos chegando rapidamente às 900 curtidas - isso tudo com pouco menos de dois meses de existência! 
Estou muito feliz com tudo isso e queria agradecer de coração a todos que estão apoiando, curtindo, lendo os textos e muito mais. Obrigada!



Bom, hoje escreverei um post que planejo desde que comecei o blog. Naquele meu primeiro texto cheguei a dizer, em uma das histórias, como calouro sofre pra entender coisas que para aqueles já estão na faculdade faz tempo são banais - justamente por não haver nenhum lugar onde ele pode aprendê-las e pelo fato de, na maioria das vezes, os veteranos serem desnecessariamente hostis. 
A faculdade e a escola são imensamente diferentes. É difícil se acostumar com um ambiente novo e aprender a se virar em tão pouco tempo - de certa forma, parece aquela transição da infância pra adolescência (onde você quer que sua mãe te deixe sair sozinho e voltar tarde, mas ainda pede presente de dia das crianças), só que mais branda e menos chata (porque, né, prefiro ser caloura do que pré-adolescente com milhões de espinhas e um nariz que cresceu antes do resto do rosto acompanhar).
Esse post também pode ser útil pra você que, apesar de já estar inserido neste mundo faz um tempo, continua tendo suas dúvidas em relação a certas coisas.
Será um texto diferente do último que fiz: mais fragmentado e, talvez, menos interessante para aqueles que não vivem o contexto do público-alvo. Mas prometo outro post de opinião ainda esta semana :)
Tentarei abordar aqui tudo que acho pertinente, mas se eu esquecer algo e você, leitor, lembrar pra mim, faça um comentário e ajude a complementar esta postagem!

Bom, chega de enrolar, vamos ao que interessa!

1) Dicas gerais

  • Tenha um amigo veterano - amigo mesmo, não alguém que vai ficar te trollando e te passando informações erradas. Assim, você pode obter opiniões sobre matérias, professores (se tal professor é chato, exigente, engraçado, o que gostam de cobrar nas provas) e pode conseguir materiais e  resumos bons pra tirar xerox.
  • Não se importe com as pessoas te chamando de "calouro burro". Elas só estão com saudades da época em que todos te cumprimentam por ter passado em medicina.
  • Conhecimento é algo que se obtém devagar e aos pouquinhos. Não se desespere por não saber muito, e também não se ache o grande detentor de sabedoria por ter entrado em medicina. Se sua tia perguntar qual remedinho ela passa na ferida que apareceu em seu braço, caso você não saiba, não insista em responder. É melhor não falar nada do que falar coisa errada. 
  • Cadáver: a grande curiosidade de todos. O pior do cadáver é, na verdade, o formol: ele queima suas narinas por dentro e arde seu olho (embora eu tenha passado muito mais aperto com formol quando tive patologia I do que anatomia). Nunca vi ninguém passando mal por causa de cadáver (no sentido de vomitar e ter nojo, pois já vi gente passar mal com formol), mas se esse for o seu caso, fique calmo e tente pensar nele como um objeto de estudo. Se o caso for mais grave, a maioria das faculdades têm psicólogas que podem te ajudar.
  • Faça as chamadas "coisas de calouro". Tire foto do seu lindo jaleco, de você no laboratório de histologia olhando no microscópio, todo esse tipo de coisa. Aproveite sua calourice! hahaha
  • Aproveite para ir nas festas, churrascos e sair com os amigos agora, porque depois sua vida vai ficar tão corrida e apertada que talvez não dê mais tempo de socializar tanto quanto você queria (quer dizer, né, cada um torna prioridade o que quiser).
  • Não perca a fé no curso e naquilo que você acredita. Muitas pessoas entram na faculdade de medicina com um coração muito bondoso e uma grande vontade de mudar o mundo - parte delas acabam perdendo essa vontade depois de tanto ver gente desinteressada lidando mal com os pacientes (além da roubalheira política e a falta de investimento no SUS). Não deixe isso te abalar. Você ainda pode fazer muito pra mudar a atual situação se seguir aquilo que acredita.
Meu lindo jalequinho em sua foto que tirei quando era caloura
2) Trote

Certeza que muita gente vai me xingar por essa parte do texto, mas vamos lá.
Alguns faculdades possuem trotes mais legais, onde os calouros levam roupas, brinquedos e alimentos não-perecíveis para doação - além de o sujarem e pintarem. Já em outras, a coisa funciona na base da humilhação mesmo, e quem participa geralmente é obrigado a fazer coisas bastante degradantes.
Quando passei no vestibular, não quis participar do trote (desculpa, mas ir voluntariamente morder cebola e ter sua bunda julgada em um concurso de calouras é um pouco de retrocesso intelectual na minha opinião). Me disseram que eu não poderia participar de festa nenhuma e seria excluída socialmente de tudo - algo que não aconteceu nem comigo nem com meus colegas que resolveram não participar.
Eu estudo em uma faculdade particular e sei que em algumas federais (e mesmo outras particulares) a coisa pode ser mais pesada e você pode ter menos direito de escolha entre participar ou não. Mas já conversei com alguns amigos que são de várias UFs diferentes e eles dizem que poderiam ter escapado do trote se quisessem e, inclusive, algumas pessoas se safaram e  não rolou exclusão social.
Quando meu pai entrou na faculdade (ele fez engenharia na UFMG), o trote que faziam durava uma semana: em cada dia, era estabelecido que os calouros trouxessem algo para doar (por exemplo, na segunda era dia dos casacos, na terça dia dos brinquedos, e por aí vai). No último dia da semana, rolava a coisa de pintar e rasgar as roupas (mas sem outras brincadeiras de mau gosto) e eles iam pedir dinheiro nas ruas. Depois, juntavam toda a grana arrecadada e faziam um churrasco entre calouros e veteranos. 
Além disso, tem certas brincadeiras que são engraçadas e não fazem mal a ninguém. Uma amiga minha que faz comunicação social me contou que, no trote que ela deu, cada calouro ganhou um "ovo de estimação", o qual terão que cuidar e devolver - em perfeito estado - depois de uma semana. 
Há quem enxergue o trote como um ritual de passagem e mal pode esperar para recebê-lo. Cada um decide o que é melhor pra si mesmo - se você não se importa em ter que fazer certas coisas humilhantes e ser xingado de nomes que talvez te deixem chateado, vai na fé. Mas antes, procure saber com um veterano amigo como é o trote do local onde você estuda, se é pesado, que tipo de "brincadeira" fazem, etc.


Aos veteranos: seria legal se alguém compartilhasse histórias de trotes nos comentários, tanto positivas quanto negativas. Como esse é um aspecto que varia muito de faculdade pra faculdade, é difícil fazer um texto mais pontual e assertivo sobre isso apenas com o que vivi no lugar onde estudo e do que ouvi de amigos.

3) Livros


Lembra que, na escola, você tinha a lista de material escolar e, necessariamente, precisava comprar (ou xerocar) todos os livros que lá estavam listados? Pois é, na faculdade não vai ter lista e, se você quiser, pode ficar o curso todo sem comprar um livro sequer.
Livros de conhecimento médico são caros: uns mais, outros menos - porém, dificilmente, você irá encontrar algo por menos de 100 reais. Aqui estão algumas dicas que você pode ter em mente na hora de fazer uma compra e não gastar dinheiro a toa:
  • Existem muitos livros de muitos autores diferentes, por isso seus professores terão uma bibliografia recomendada, seguida por eles ou mesmo pelo que sua faculdade indica. Porém, se você deseja comprar, faça uma pesquisa antes - muitas vezes, o livro que o professor indica pode não ser o que você mais gosta. Alugue livros diversos na biblioteca e veja qual é o que mais te atrai.
  • Você não precisa comprar necessariamente. Pode xerocar (e, fica a dica, nem sempre o xerox da faculdade é o mais barato, dê uma sondada nas papelarias de sua cidade antes), comprar usados em sebos ou mesmo na internet. A vantagem do sebo é que você pode verificar a condição do livro antes de comprar (por ser usado, pode estar meio acabado) - na internet, é necessário confiar na descrição do vendedor. Mas no Mercado Livre e no Busca Pé (e muitos outros sites, dê uma checada no Google) você pode encontrar material bom de vendedores de confiança. A opção que algumas editoras oferecem de comprar o e-book também é excelente, visto que sai muito mais barato.
  • Diferente da escola - onde o conhecimento é praticamente estático e o que é ensinado aos alunos é quase completamente imutável - a ciência constantemente altera aquilo que aprendemos na medicina. Possivelmente, aquilo que você, que está entrando no primeiro período agora, irá aprender, é um pouquinho diferente do que eu aprendi há dois anos. E com certeza é muito diferente daquilo que quem vai entrar na faculdade daqui a vinte anos irá estudar. Tenha isso em mente na hora de escolher um livro: algumas ciências são muito mutáveis na medicina, como a farmacologia - edições diferentes trarão novidades significativas. Outras áreas são mais estáticas, como a anatomia: a última grande mudança nos livros ocorreu em 1998, onde alteraram os nomes de algumas (poucas) estruturas. Por isso, um livro de anatomia é pra vida inteira - um de farmacologia não será. Pense nisso e tenha em mente opções econômicas como as que já citei, como o xerox.
  • Assim como a ciência vai mudando os livros, de um autor pra outro podem haver divergências com relação a conceitos. Por exemplo: alguns consideram o cérebro como sendo apenas composto pelo telencéfalo, outros pelo telencéfalo e diencéfalo e terceiros pelo telencéfalo, diencéfalo e mesencéfalo. Por isso seu professor e sua faculdade possuem uma bibliografia recomendada: eles seguirão o que aquele livro específico fala, para não haver confusão. Em provas de residência isso é feito também. Por isso, tente, se possível, saber quais são as diferenças pra não ser pego de surpresa numa correção de prova caso você tenha estudado por um livro diferente do que aquele da bibliografia recomendada. Sei que às vezes isso não é possível (já ouvi falar que livros de ginecologia e obstetrícia diferem em pontos diversos, e fica difícil guardar).
  • Você também pode perceber que alguns livros valem a pena ser comprados (como de anatomia e fisiologia). Eles serão muito necessários e, mais pra frente no curso, muito do que você aprendeu nessas disciplinas será esquecido. Acho que, se você está com a grana sobrando, pode comprar vários livros - mas se o dinheiro está curto, favoreça aqueles de matérias que são a base da medicina e aqueles de disciplinas que você gosta. Se comprar algum livro, acabar não usando e se arrepender não se preocupe, é só tentar uma revenda.
Nota: como todos devem saber, xerocar livros é uma forma de pirataria. Porém, infelizmente, os livros são caros e muitos não possuem condição financeira para comprá-los. Não incentivo esta prática, mas todos sabemos que ela acontece e bastante comum, e pode acabar sendo a única alternativa para muitos.

4) Congressos e outros eventos científicos

  • Não queira ir num congresso de neurocirurgia (ou qualquer outra coisa complicada) estando no primeiro período. Você não vai entender absolutamente nada (nem eu, que estou no quinto, ia absorver muita coisa). Além disso, inscrições pra congressos grandes geralmente são muito caras - você não vai querer pagar 300 reais pra sentar lá sem entender absolutamente nada. Não coloque o carro na frente dos bois (coisa de vó falar isso né). Acho que só vale a pena ir se um de seus pais é neurocirurgião e pode te levar junto com ele.
  • Tente frequentar eventos mais voltados para acadêmicos (por exemplo, eu e vários outros colegas estamos organizando um congresso de fisiologia, excelente oportunidade pra calouros e pessoas no início do curso). Mesmo assim, entenda que muito do que falarem você não vai compreender e não se desespere por isso. Tenha calma. O conhecimento é algo que se adquire de forma lenta.
  • Em muitos congressos, é possível enviar trabalhos em forma de pôster ou apresentação oral. Recomendo ir num evento que ofereça isso para você observar primeiro como tudo funciona. Não sei se é ideal fazer trabalhos sendo calouro também. O primeiro que fiz foi quando estava no segundo período, então eu diria que é bom esperar um pouquinho. De qualquer forma, leia um edital de envio de trabalhos de algum congresso, só pra ter uma ideia de como as coisas são.
  • Prefira congressos que são acreditados pelo CNA (Comissão Nacional de Acreditação). Se você publica um trabalho em um evento que não é acreditado, em alguns lugares (cada estado brasileiro tem um parâmetro) isso pode acabar não sendo levado em consideração no seu currículo. Abordarei mais sobre este aspecto a frente.
  • Todo estudante (de qualquer curso) tem uma carga de horas-extra pra cumprir. Isso pode ser feito por meio da realização de várias atividades (como monitoria) e da participação em eventos científicos. Pelo menos na minha faculdade, é necessário completar essas horas antes do internato, e ir em congressos é uma boa forma de cumprir esse extra.
  • Como eu já havia dito na primeira postagem, é possível faltar alguns dias de um evento e ainda ganhar certificado. A maioria só exige 50% de presença, e mesmo assim já vi muita gente faltar tudo e ainda ganhar. Acho que esse tipo de punição só ocorre quando se trata de um congresso maior, mas aí você também não vai pagar caro pra faltar tudo né?

5) Currículo


Existem várias coisas que você pode fazer e que, tecnicamente, "contarão ponto" no seu currículo quando for fazer residência. Porém, em cada estado analisam isso de uma forma diferente, e a tendência é que cada vez mais a prova seja valorizada em relação ao seu histórico.
Por isso, tente fazer aquilo que te trará conhecimento e reconhecimento (dá pra fazer um slogan de propaganda aqui). Coisas que possam te trazer contatos na área médica (algo especialmente bom para aqueles que não são filhos de médicos) e também enriquecer seu conhecimento. Não chegue no fim do curso com um currículo em branco, pois isso também vai depor muito contra você (pode passar uma imagem de desinteressado). Porém, não deixe que atividades das quais você não tem obrigação de participar atrapalharem seus estudos. Como disse, as provas estão sendo mais valorizadas.
De qualquer forma, aqui estão algumas coisas que são valorizadas em currículo (o quanto elas serão valorizadas depende do local, e até mesmo de quem vai avaliar):
  • Monitoria
  • Participação em ligas acadêmicas (falarei mais sobre isso)
  • Trabalhos científicos publicados em congressos nacionais e internacionais
  • Média acima de 8,5 em pelo menos 50% das matérias
  • First Certificate in English (FCE) com nota A (outros certificados - de outros de idiomas - também são aceitos, porém não sei informar a partir de que nota isso acontece - no caso do FCE, notas B e C não contam)
  • Organização de eventos científicos (com CNA)

6) Entidades discentes em faculdades


Ligas acadêmicas: são grupos de alunos que se reúnem (e, dependendo da atividade proposta pela liga, realizam estágios e atividades práticas) para aprofundar seus estudos em determinado tema. Dependendo da faculdade, existem ligas de matérias básicas (como anatomia e fisiologia) e outras de disciplinas mais avançadas (como de especialidades cirúrgicas) - geralmente essas são as ligas que promovem mais atividades práticas. As ligas possuem diretorias e geralmente, admitem novos alunos por meio de provas.
  • Diretório Acadêmico (DA) e Diretório Central dos Estudantes (DCE) - um DA é um grupo de estudantes que representa seu curso. O DCE, por sua vez, vai defender os interesses de todos os estudantes no geral. Nem todas as faculdades possuem DCE, mas todo curso deveria possuir o seu DA, para que a opinião dos estudantes seja defendida e representada perante à diretoria docente de curso. Para eleger chapas para ambos, são feitas eleições. 
  • Atléticas: são entidades discentes que promovem o esporte no meio acadêmico da medicina. Geralmente organizam festas bastante elogiadas e eventos esportivos - um exemplo famoso é o Intermed.
  • Representante do colegiado: é o aluno que participa de reuniões com professores e diretores do curso representando todos os outros discentes. Também é escolhido por meio de eleição.
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Eu ia falar também sobre a estrutura do curso de medicina, mas vou deixar pra próxima. Ou então o post vai ficar gigantesco!


Bom galera, acho que por hoje é só. Espero que esse texto ajude os leitores calouros e mesmo aqueles que ainda não são! Eu mesma demorei para entender como funciona toda a dinâmica de faculdade e acho que gostaria de ter lido algo assim nos meus tempos de caloura.
É claro que não sou dona da verdade e as dicas que dou podem não ser muito boas para algumas pessoas. Mas espero ajudar um pouquinho cada um que está perdido a se situar nesse novo ambiente.
Se alguém tem algo de legal pra falar não se acanhe, use os comentários para tal :)

Um abraço a todos e até a próxima postagem!

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Minhas impressões sobre o comércio da saúde americana

Olá pessoal! 
Bom, eu havia prometido que ia voltar a postar assim que voltasse da viagem, no dia 28. Mas minha vida anda corrida, estou fazendo muita coisa... No fim das férias ajudei com a ilustração de um vídeo do Teoria da Medicina, se vocês quiserem ver cliquem aqui e aqui! E, logo depois, voltaram as aulas, voltaram as matérias... E a cereja no topo do bolo é: a liga da qual sou secretária (Liga Acadêmica de Farmacologia Aplicada - LAFA) e a Liga Acadêmica de Fisiologia Luiz Carlos Bertges (LAFLCB) estão organizando o I Congresso de Fisiologia de Juiz de Fora (fica a dica aí de evento científico pra quem é de Juiz de Fora e região!)... então vocês podem imaginar né! Muito, muito trabalho...
Pretendo postar mais no fim de semana ou no início da semana que vem, mas como já expliquei que o trem tá feio pro meu lado, as postagens serão menos frequentes por agora. Mas não se preocupem, muitos posts legais já estão sendo preparados!
Calorão em Miami (eu e meus bros peixe-boi)...
Faz pouco mais de duas semanas que cheguei de uma temporada de 14 dias nos Estados Unidos. Fui pra Miami e depois pra Nova York, sendo que fiquei a maior parte do tempo nesta última cidade. Minha mala estava extremamente engraçada: tinha shorts, camisetas e um monte de casacos pesados e blusas térmicas - contradição total. Miami, como sempre, estava bem quente, mesmo sendo inverno - acho que chegamos a pegar uns 30 graus lá. Já Nova York começou mais ou menos em 0 graus, depois deu uma esquentadinha (esquentadinha = 9 graus, no máximo) e voltou a congelar - teve um dia que fez -12 graus, obviamente eu chorei e parte do meu cérebro congelou. 
Não gosto muito de frio. Se eu fosse um pokemon, ataques de gelo seriam super effective contra mim. E o pior mesmo não era nem as baixas temperaturas, era o vento bizarro. Lá venta MUITO - o que é de se esperar pra um conjunto de ilhas. Mas mesmo no meio da cidade, com todos aqueles prédios enormes, às vezes vem aquela corrente de vento que chega até a te empurrar de tão forte. E o pior: é uma corrente de vento gelada. Pense em alguma vez que você foi à praia e bateu aquele ventão refrescante enquanto você olhava pro mar. Agora mude o cenário: não tem praia, está -5 graus e o vento chega a dar queimaduras de frio (sério).
...frio infernal em Nova York (pra mim, se existe inferno, ele é frio). 
Brincadeiras a parte, Nova York é uma cidade belíssima. Miami também, mas não chega a tanto. NY empata com minha cidade preferida no mundo todo, Londres.
Eu poderia falar muito mais coisas sobre ambas as cidades, mas queria focar no que vi em relação à saúde nos Estados Unidos. Se rolar um feedback positivo com relação a falar mais sobre a viagem, as cidades e o país em si, faço um post sobre isso futuramente.
Se você é novo por aqui, provavelmente não leu ainda minha postagem sobre o filme Sicko, do diretor Michael Moore. Lá, faço comentários sobre o sistema de saúde dos EUA. Agora, queria abranger o lado das pessoas, aquilo que percebi em relação à população e ao que é passado pra ela.
Times Square
Os EUA são um país onde o dinheiro corre solto. Os salários são bons e tudo é barato. A única coisa que percebi ser muito cara é o aluguel de moradias e o preço de compra das mesmas. Não sei informar em relação aos impostos. Mas de resto, é tudo barato. Comida, roupa, brinquedos, jogos, eletrônicos, produtos de utilidade médica. Cheguei a comprar uma blusa bem bonitinha por 3 dólares (algo que, numa loja de departamento brasileira, não sairia por menos de 30 reais). Existem coisas caras também - as roupas da Lacoste, por exemplo: mesmo lá se paga um absurdo por uma camisa lisa com um jacarezinho. Porém, tudo que custar mais lá, no Brasil custa o dobro.
Por causa dessa facilidade de compra, os bens parecem ter menos valor emocional. Se seu computador deu defeito, é simples: compre outro. Ninguém parece se apegar a nada que lhe pertence, pois é fácil substituir.
Devo ressaltar também como a propaganda lá é forte. Nessa foto aí em Times Square - o "coração do mundo" - todas essas coisas brilhantes grudadas nos prédios são publicidade. Se anuncia de tudo - desde séries de TV (tava lotado de coisa de Smash, por exemplo) até seguro de vida. É o lugar mais caro pra se fazer um anúncio no mundo.
Feita esta pequena introdução, posso prosseguir. Queria que você, que está lendo o texto, imaginasse uma propaganda de remédio brasileira. Provavelmente, vem na sua cabeça aquelas publicidades de remédio pra dor de cabeça ou dor no geral, com o final clássico Este medicamento é contra-indicado em caso de suspeita de dengue. É basicamente o que se tem por aqui, né?
Nos EUA isso é totalmente diferente. Primeiro que lá não se faz propaganda apenas de antiinflamatório: tem de tudo. Anti-hipertensivo, antibiótico, benzodiazepínico e até remédio pra cobreiro (vou  voltar nessa bizarrice depois, continue lendo). É sério! Segundo que os anúncios lá seguem um formato padrão, mas bem diferente do que temos aqui em Terra brasilis: começa com uma pessoa (geralmente uma mulher) dizendo como ela era infeliz quando tinha a doença X e como a vida dela ficou linda depois que passou a tomar Y. É tipo uma entrevista, com cenas da vida cotidiana dela (mostrando, por exemplo, como ela não conseguia fazer mais nada por causa da doença e como, depois do remédio, tudo ficou cor-de-rosa). Até aí tá de boa né? Bom, é depois que a pessoa usada como modelo fala que começa a estranheza toda. Uma voz, falando extremamente rápido, vem dizendo dados sobre o remédio - tipo aquelas coisas que a gente lê na bula - enquanto passam mais cenas da pessoa felizona após tomar Y. É tipo uma Este medicamento é contra-indicado em caso de suspeita de dengue extended Director's cut, com cenas da vida da modelo usada ao fundo - e não uma tela azul.
Geralmente, escolhem coisas bem bregas pra passar - estilo comercial de absorvente, em que, aparentemente, supõe-se que toda mulher menstruada sai de branco pra dar piruetas: a pessoa previamente doente andando na praia com seu cônjuge, jogando o ossinho pro cachorro buscar, dando risada com os filhos (se for alguém idoso, netos). Comemorando o famoso American Way of Life. Enquanto isso, vem a tal voz disparada falando coisas como Se você tiver 60 anos  ou mais, consulte seu médico antes de administrar Y. Se você sentir tonturas, suspenda o uso e procure seu médico. Efeitos colaterais incluem boca seca, falta de ar, palpitações, flatulência, bolinhas verdes nas suas mãos e visões fantasiosas do Godzilla atacando a sua cidade enquanto chove. É sério isso! É como ler a bula, mesmo. Só que num comercial de remédio. (não consegui achar nenhum vídeo de comercial no Youtube pra mostrar, infelizmente. Se alguém encontrar, comenta aí!)
Minha aposta é que fazem isso para não tomarem processo - algo que se faz, E MUITO, por lá. Melhor que ser advogado no Brasil é ser advogado nos EUA, por que se você tomou Y e teve diarreia, como isso não estava sendo citado na propaganda, pode processar o laboratório fabricante
Anúncios televisivos de escritórios de advocacia especializados em processar por um determinado problema de saúde chovem lá também. Lembro de um que vi em Miami que oferecia ajuda a quem estava com asbestose.

Depois do 11 de setembro, muito se fala sobre essa doença. Quando construíram as torres gêmeas, no fim da década de 60, aterraram uma parte do local onde elas ficavam e reforçaram a estrutura do solo para que ele aguentasse dois prédios gigantescos. Para segurar o WTC usaram muito asbesto, um material excelente em engenharia para reforçar estruturas porém carcinógeno potente. Não preciso nem falar que quando os prédios foram destruídos, coisas horrorosas foram vaporizadas e espalhadas no ar de Manhattan e região, incluindo o asbesto. 
Em consequência disso, muitos que trabalharam nos escombros ou mesmo viviam próximos à área do WTC desenvolveram doenças pulmonares, como a asbestose e até câncer de pulmão. O governo americano vem negando tratamento gratuito a algumas dessas pessoas - que na época eram considerados heróis - como o próprio filme Sicko mostra. Daí, a propaganda que vi era de um escritório especializado em conseguir, por meio de um processo, que o governo pagasse o tratamento de quem foi afetado pelo asbesto.
Fumaça altamente tóxica sendo espalhada por NY
Nesse caso, acho bem válido. O negócio é que lá se processa por muito, muito menos, como já havia dito. Se seu professor aqui já te faz terror na faculdade falando que você VAI se enrolar com advogados no futuro e PRECISA saber o código de ética médica de trás pra frente, eu nem imagino o que falam para os estudantes de medicina americanos. É a Sue Me, Sue You Blues do lendário George Harrison.
Esse aqui, que consegui tirar foto, processava GOs no caso do DIU da paciente sair do lugar
O último aspecto que queria abordar aqui em relação à percepção dos americanos sobre a saúde é o sensacionalismo. Voltando um pouco na coisa de propaganda de remédios, um dia lá assisti um anúncio (naquele mesmo formato que expliquei) de uma senhora que teve cobreiro (eu disse que ia voltar nisso!). Eu não sei se essas pessoas nas propagandas fazem relatos reais ou se são atores contratados. Mas nesse caso, a senhora afirmava que o cobreiro é uma doença grave e que todo mundo que teve catapora, inevitavelmente, terá cobreiro. Aí prosseguia para ofertar o remédio e te pedir pra perguntar pro seu médico sobre os riscos dessa enfermidade.
Coitados dos doutores de lá, devem ter que esclarecer muuuuuita coisa pros pacientes - tipo quando o Fantástico ou qualquer um desses programas anunciam que encontraram a cura do Parkinson e os neurologistas ficam possessos. Sabemos que cobreiro não é uma doença legal (que doença é legal, né?), mas ela é rara e quase ninguém que teve catapora vai desenvolvê-la. Não há necessidade de ofertar um remédio pra isso, muito menos botar caraminholas na cabeça (Chapéu seletor feelings) dos leigos. Quer dizer, a necessidade é puramente $$.
Uma vez, antes de entrar na faculdade, assisti uma entrevista do Patch Adams no programa Roda Viva da TV Cultura (quem quiser ver, deve ter por aí perdido no Youtube). Ele falava bastante de como a indústria farmacêutica é perversa - o que me deixou curiosa, já que na época eu considerava bastante fazer farmácia e não enxergava tanta maldade nos remédios aqui no Brasil. Agora, após passar um tempo na terra do Patch, consigo enxergar por que ele - uma pessoa que defende bastante ideais socialistas e tem pensamentos muito legais - detesta tanto esse mercado que, nos EUA, lucra bilhões às custas de deixar todo mundo desesperado e extremamente hipocondríaco.

Só pra finalizar: lá tem uma rede de farmácias chamada Walgreens (pra quem mora em BH e região, é tipo uma drogaria Araujo). Tem uma em cada esquina e vende de tudo: milhões de remédios, produtos médicos (como glicosímetros), maquiagem, esmaltes, roupa, souvenirs, shampoo e coisas nada a ver (minha mãe comprou uma batedeira lá). Tinha uma Walgreens gigante bem centro da Times Square, e pra mim isso simboliza o quanto eles lucram com essa paranoia que colocam na cabeça da população.

Bom pessoal, por hoje é isso. Comentem o que acharam da postagem de hoje e, mais uma vez, me desculpem por demorar tanto pra escrever! Obrigada pela leitura :)
Um abraço a todos


domingo, 13 de janeiro de 2013

Viagem!

Olá galera!

Bem, esse post será mais pessoal e tentarei ser o mais breve possível nele.
Primeiramente, gostaria de falar sobre umas pequenas mudanças estruturais que fiz no blog. Coloquei uma caixa para você curtir diretamente daqui nossa página no facebook. Se ainda não fez isso, é só olhar aí do lado! :)
Fiz uma nova coluna com links de blogs e páginas interessantes, acho que vale a pena vocês visitarem, pois todas possuem conteúdo que, acredito eu, irá agradar leitores do meu bloguinho.

Hoje (quer dizer, será amanhã, mas madrugada de segunda-feira ainda é domingo), às 2h da manhã, pegarei um vôo do Rio para os EUA, pois estou indo passar 15 dias lá. Quero utilizar essas férias pra relaxar a cabeça e descansar um pouquinho, por isso não estou levando computador, apenas meu celular para não ficar 100% desconectada. Dessa forma, até o dia 28, o blog deve ficar sem novos textos (a não ser que eu atualize de lá, mas caso faça isso, vai ser coisa simples). Como os comentários aqui também são moderados, caso alguém escreva algo possivelmente vai demorar um pouquinho pra eu aprovar, mas farei o máximo possível para correr tudo normalmente.
Minha "malinha". 80% é casaco. Estou quase chorando pelo frio que encontrarei em NY
Queria agradecer MUITO às quase 100 curtidas que temos no facebook e às mais de 1100 visitas! Estou impressionada e extremamente feliz. Devo agradecer de coração ao pessoal do Anatomia da Depressão (link ao lado) que divulgou o meu texto sobre estudar anatomia e angariou mais leitores para o GEM!

Eu ia fazer um texto pra publicar hoje mas acabou não dando tempo, tive que ficar arrumando mala e tal. Mas prometo que, quando voltar, escreverei bastante e trarei muitas novidades e fotos! Se você ainda não leu os textos passados, pode conferí-los!

Novamente, muito obrigada A TODOS por todo o apoio que meu bloguinho está recebendo. Nunca fiquei tão feliz com um projeto assim! Sentirei muita saudade de escrever, mesmo que por apenas 15 dias!

Um abraço a todos!